sábado, julho 17, 2010
Crisis, what crisis?
E está tudo dito, por estes dias, não?
Não dão bons resultados no imediato. Ponto.
E não falo só na questão financeira, mas da social, da pessoal, da... Quando algo não vai bem, vamos logo a correr a tentar resolver. Em frenesim, verificamos as nossas poupanças, os nossos créditos. Em frenesim, pulamos para as conversas amargas à procura quase sempre mais da culpa do que da solução. Sempre se consegue dormir - "Isto está mal, mas não é nada comigo".
Na suposta era da comunicação, somos solicitados a resolver tudo comunicando. É importante haver comunicação sem barreiras. Não deixem de falar de tudo o que vos incomoda.
A mim incomoda-me a falta de silêncio.
Tenho saudades de quando ficávamos sentados sem falar.
quinta-feira, julho 15, 2010
B-Side
Ando num estado alucinado, nas nuvens, desde o concerto dos Pearl Jam. Foi um – e que! – reencontro!
E, no entanto, não consigo expressar este delírio. Foi como se, de repente, tivesse outra vez uns 14 ou 15 anos. Para logo ter a certeza de que com 15 anos não teria de tudo isto a mesma percepção.
E uma frase ecoa a explicar: I changed by not changing at all.
Para de alguma forma conseguir transmitir este sentimento tão disperso, tão pessoal, tão profundo, teria de sair de mim para deixar de ser catarse.
I miss you already. I miss you always.
sexta-feira, junho 18, 2010
Going blonde?
Flutuações de espírito e noites mal dormidas dão nisto… Depois de um post tão espiritual, uma dúvida muito pouco existencial: faço mais madeixas?
Hummm…..
Acho que seria muito choque ao mesmo tempo, tornar-me, ainda por cima, mais loira…
sexta-feira, maio 21, 2010
A Cigarra e a Formiga
Pertence à classe das senhoras sérias,
Tem cuidado da casa e do alimento;
Não fala muito, muito pouco briga,
Tudo o que faz é com discernimento
E, enfim, não gosta de passar misérias.
Além de tudo, é de ambições modestas,
Todo o seu bem, no seu labor converte
E faz da vida ideias esquisitas…
Não faz visitas
E não se diverte…
Nunca se viu, Dona Formiga, em festas.
De tanto se ocupar da vida e do futuro
E tornar o labor mais sério e duro,
Chega a ficar grotesca e cómica;
Pois, mesmo assim, nos amplos e massudos
Livros morais, de exemplos e de estudos,
Com que, da infância, o estímulo se apura,
Ela figura
Como um sólido exemplo de económica.
Trabalha muito no pesado Estio,
Porque receia
Que o Inverno venha achá-la desprovida.
Por isso, quando chega o Frio
E cessa a lida,
Já ela está com a dispensa cheia.
Dona Cigarra – esta, coitada!
Não vale nada
Entre as pessoas sérias!
É a pobre infeliz que dá lições de canto
E que o Verão inunda
Da sua Alma de estroina e vagabunda…
Entretanto,
Dona Cigarra, eu sei, passa misérias.
É da boémia a mais perfeita imagem,
Adora a luz e mora na folhagem…
E tal a vida é e de tal a aceita,
Sempre de sonhos e ilusões repleta…
Dona Cigarra até parece feita
Da própria massa de que é feito o Poeta!
Passa o verão… E o véu do estio,
O tempo, sobre o Céu e a Terra corre;
Torna-se a Vida mais penosa e séria…
Dona Cigarra não resiste ao frio
E, coitadinha, morre
E morre, quase sempre, na miséria.
Contam, que um dia,
Morta, do Sol, a límpida alegria,
Sem luz para cantar,
Como fizera no Verão inteiro,
Fora à Formiga, em prantos, implorar
Um pedaço de pão do seu celeiro…
Como a Formiga, então lhe perguntasse
Onde se achava
E o que fizera na estação passada,
Honestamente, disse que cantava…
Pois a malvada,
Sem dó da mísera mendiga,
Quase morta de fome e já sem voz,
Numa ironia desumana e atroz,
Mandou que ela dançasse…
Por isso, é que eu não gosto da Formiga.
Mário Pederninhas – Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida, 1912
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
AMOR
Quando se põe o sol!
- Filha, para as adormecer
Canta o rouxinol...
- Mãe, as flores acordam
Quando nasce o dia!
- Filha, para as acordar
Canta a cotovia...
- Mãe, gostava tanto de ser flor!
- Filha, eu então seria uma ave...
terça-feira, janeiro 05, 2010
Paisagem
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores, elástica e dura.
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento,
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen