terça-feira, abril 21, 2015

Ardem fogos lentos
No silêncio da tarde
Barcos fazem de conta
Balançam na água
Não fales. As palavras mentem.
É Setembro e esta luz
Talvez
Ainda. Amo-te...
O silêncio arde a tarde
Dolente
E as minhas mãos procuram as tuas.

terça-feira, janeiro 13, 2015

Aspargus

Ser feliz. E eu só queria ser feliz.
Ter uma qualquer vida em que se fosse feliz. Isso deveria bastar. Não?

Mas nunca é só isso que queres. Queres ser felizes, sim, mas de uma forma determinada e escolhida. Não com aquela face amarelada, um zeloso marido e filhos desengonçados. Não!
Não como aquele pobre coitado (queres mesmo é chamar-lhe energúmeno) que se acha o mais esperto das redondezas  - ele deve sentir-se feliz, não?
Não como o varredor de ruas, não como o vendedor de lotaria ou o caixeiro do supermercado. Todos podem ser perfeitamente felizes nas suas vidas, mas tu não queres.

Não com qualquer amor, de alguma qualquer pessoa que ainda nem conheces. (Como é que eu sei que vou gostar dele?!?!)

Eu quero ser feliz aqui, não ali. Não quero saber se o ali está à minha espera. Eu quero ser feliz com ele. Esse, sim, esse amor que bateu à porta, já quase outono, num dia de sol. Esse que me tira o fôlego só de existir. Eu sei, eu sei, o outro... aquele com quem vais ser feliz é perfeito para ti, como duas peças de um puzzle encaixar-se-ão.
(Desculpa, mas nem sequer o conheço; é bem possível que nem sequer goste dele E, já disse, tenho pressa.) Eu quero ser feliz agora, neste momento, com esta boca e este sorriso. Não amanhã, não daqui a 2 anos ou 20.

Essa mão direita já encaixa aqui nesta minha esquerda e a minha cabeça não dói quando repousa no seu peito. E é essa voz que ondula sob a pele e compassa o meu coração.


I"I'm so glad I don't like asparagus, said the small girl to a sympathetic friend. Because if I did, I should have to eat it, and I can't bear it!"
-- Lewis Carroll

quinta-feira, dezembro 18, 2014

You

Não estamos juntos. Em qualquer sentido do termo: não num sentido concreto, formal, estamos longe fisicamente e não somo um par que se prolongue para além de uns minutos.

Muitas vezes apenas se tocam os nossos ombros ou os braços, por segundos que me parecem uma eternidade.

Quando aqui estás, à minha beira, fico imersa na tua presença, na vida que de ti emana e paraliso. Fico perdida nos teus olhos (adoro as linhas dos teus olhos), no teu braço, no teu cabelo, na tua forma de falar, de contar tantas coisas. E fico orgulhosa. Só. Orgulhosa de estar ali contigo, no meio do mundo todo lá fora.

Por momentos, imagino as minhas mãos a tomar algumas liberdades que não são admitidas fora do nosso "outro" contexto. Passar a mão na tua cabeça, tocar-te o antebraço, acariciar o teu joelho.

De repente, fazes-me uma pergunta e acordo do meu sonho de meio-dia "Estás bem?"

Sei que não quererás mais do que isto. E mesmo assim penso que está bem assim, como queiras - ficaria feliz por ser apenas o que queiras. Também pode haver romance numa amizade, uma espécie de deleite que dá às coisas ordinárias um brilhozinho extra.

E aí penso como tudo isto começou e naquilo que sempre prometemos um ao outro - honestidade, sem tentativas de esconder ou dourar a realidade. E penso também como me sinto tão mais consciente de mim própria desde que nos encontramos.

Não percebo muito (ou quase nada) do amor. Na verdade, sou um pouco infantil nesse aspeto. Imagino a mulher que procuras para ti, a tua companheira e tento fugir à tentação de me imaginar nesse papel, de tentar medir o quão perto ou longe poderei estar dela.

Não o devo fazer? Tanto faz. Nunca prometi nada além de honestidade. Tu também. Portanto, tento descongelar o coração do terror de nunca mais te ter. Aceitar o que o universo me vai dando. Talvez até tenha ido muito mais além do que pensava. E se só tiver o teu corpo ocasionalmente contra o meu, se nunca mais o fizer ou se apenas te olhar de 5 em 5 anos... eu sei que vou ser feliz e, acima de tudo, vou ser mais Eu nesses momentos.

A eternidade é sempre que isso acontece. O dia que está sempre para vir amanhã é o que dá luz aos dias por viver.

Pois, então, se já vivi apaixonada por ti e te disse que te amava sem saber o que isso era, deixa que te diga hoje, com dois pés na terra - e as mãos onde e se as quiseres - que te amo, sim, mas de uma forma melhor e mais livre. Quero que sejas feliz! E fazes-me feliz só por estares aí, por existires.

sábado, dezembro 13, 2014

Um poema

IX - Do Desejo


E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst

segunda-feira, novembro 17, 2014

Poeminha Lento

Coloquei minha alma num barquinho
a remos em alto mar
Remo, remo
mas não sei remar

Fecho os olhos
E enquanto o sol me doira a face
Vou
Com o vento onde ele me levar.

(2/9/2014)

sexta-feira, agosto 01, 2014

Loneliness

às vezes, sentimo-nos sozinhos
com vontade de incendiar tudo
de fugir daqui por outro caminho

outras vezes, não
procuramos apenas outros olhos
que nos prendam à vida e nos segurem na mão